segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Dias Gomes, Ai Que Saudade! * Antonio Cabral Filho - Rj

Dias Gomes, ai, que saudade! 

Depois que você partiu, minha vida ficou um buraco; é, e daqueles perdidões por ai, rua a fora, mato a fora, vida a fora. Fiquei órfão, sem pai nem mãe, parado numa curva da rio - Bahia, sem saber pra que lado fica o caminho certo. Passam carretas, puxando dois-três containers roncando igual minha mãe na soneca da tarde, passam gaiolões empinhados de bois rumando não sei pra onde. Passam tantos veículos de carga que eu me pergunto de onde vem tanta produção, aonde é esse lugar e se seria possível arrumar um ganho por lá. De repente aparece uma caminhonete chevrolezona enfumaçando tudo e  eu me animo a fazer sinal de quem quer carona. O moço pára com o braço e a cara de fora perguntando abusivamente "o quê qui'ocê qué'se minino?" - quero ir pra onde tiver um ganho, respondi, engatado. Vou pro rio, respondeu. Quer ir aí em cima, sobe! Ordenou e eu pulei na carroceria do "trem" e ele arrancou soltando fumaça por aquele mundão sem fim. 

De cima da caminhonete eu vim observando tudo, sem saber de nada nem aonde eu estava. Depois de viajar quase um dia, ele parou numa praça perto de um chaminé imenso e gritou "aqui é a Praça das Nações, Bonsucesso, Guanabara; é só seguir aquela avenidona do lado de lá, chamada Brasil, que vai dar lá na ponte que tão fazendo sobre o mar; lá ocê arruma ganho; inté"! Saltei da carroceria do moço sem sequer saber quem era, gritei obrigado correndo por uma rua que ele apontou e larguei na perna. Como não sou de olhar pra trás, nem me lembro do seu rosto. Estava fedendo a sangue de boi, pois a carroceria estava cheia de couro, que certamente já estaria num cortume por ali. Caminhei quase uma hora e dei de cara com os tapumes das obras da Ponte Rio - Niterói.

Pois é Dias Gomes, foi assim que eu caí no Rio,  mais perdido do que peixe fora d'água. Parei diante do porteirão onde tinha um cabra com um trezoitão pendurado na cartucheira e perguntei se tava fichando. Seu olhar frio e sua indiferença atravessaram-me mais forte do que bala, mas fitei-o de cima a baixo e repeti a pergunta num tom mais corajoso. Ele fitou-me de cima a baixo, rolou um cigarro de um lado para o outro da boca, empurrou o boné pra trás e falou "se ocê qué trabaio, entra e vai tomar banho lá naquela casa de teia, apois vai pro refeitoro qué na otra casa de teia e aguarda a comida, depois ocê ficha e maica a pegada"; saí que nem bala...

Bom Dias Gomes, pra encurtar a prosa, nas obras da ponte eu aprendi o Rio. Todo dia após o expediente, eu e uma turma íamos para a Praça Mauá, caçar um gado... e como todo caçador um dia vira caça, virei rolinha no laço de uma cearense danadinha de tesuda, êh bichinha pra meter! Casei com ela, tenho um casal de filhos, fiz um barraco em Imbariê pra nós morar, e como era muito longe dos empregos que eu arrumava, vendi. comprei outro do outro lado da Baia da Guanabara, em São Gonçalo e fomos pra lá. Deu tudo certo e comecei a ficar seu fã, vendo as suas novelas, os seus personagens humorísticos, e de todos eu prefiro o Odorico Paraguaçu, pelo que ele representa de crítica ao status quo brasileiro. Hoje, Dias Gomes, eu resolvi fazer um blog em sua homenagem, é o "Sucupira Way Of Life", e nele quero publicar apenas crônicas satíricas no estilo que você tão bem marcou a memória brasileira. Tenho certeza que vai dar certo e conto com a sua ajuda; ok?
Acesse Dias Gomes
http://www.memoriasindical.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=541
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