quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Nem Lobo Nem Cordeiro * Antonio Cabral Filho - Rj

Nem Lobo Nem Cordeiro


Correm nos noticiosos brasileiros notícias de arrepiar. Dia desses, parei na banca de jornais para surrupiar as manchetes e deparei-me com uma de causar espanto: " Não temos como provar mas temos convicção!" Tratava-se da declaração de um juiz promotor do Ministério Público chamado Daltan Dallagnol sobre o ex - presidente da República Luis Inácio Lula da silva. Dizia a matéria do jornal que o ex metalúrgico arrebanhara considerável fortuna com os dois mandatos que conseguiu à frente do país, que hoje possuía fazendas, sítios, flats, apartamentos a dar com o pau, entre outros bens. Continuando, informava que o mesmo integrava quadrilhas de extorção, as quais exigia propina dos empresários para que prestassem serviços ao governo, tais como LAVAJATO,  MENSALÃO, entre outras. Mas o texto do jornal concluía repetindo a palavra do dito juiz, lembrando que tudo isso eram apenas acusações, ainda sem provas e que o meritíssimo estava tomando as devidas diligências.

Saí dali com isso na cabeça e fiquei ouvindo os comentários das pessoas por pelo menos uma semana, tentando entender como é isso, o que é isso, aonde nós estamos, desde quando alguém pode me acusar sem provas, pode emitir acusações contra a minha honra com total liberdade, pode destruir a minha reputação e ainda conta com o apoio irrestrito dos meios de comunicação, que propalam a mentira a quatro ventos, dão voz ao energúmeno com status de pessoa digna, como se fosse uma verdadeira personalidade do mundo jurídico abalizada para proferir acusações e atropelar instâncias jurídicas apropriadas para isso.

Muitas pessoas diziam, simplesmente, "Ah, ele é um juiz, né", ou "Quê isso. Um juiz não pode faltar com a verdade..." e até "Quê isso! Ele é uma autoridade!" etc. Perguntei-me constantemente: "Então é assim?" Basta ter um cargo que eu posso fazer o que bem entender e as pessoas vão acreditar em tudo que eu disser. Então é por isso que o outro juiz dito Moro está prendendo quem ele bem quer, com a polícia dita federal sob as suas ordens, mais a imprensa e a opinião pública, ou seja, tudo a seu favor. Se for assim, por quê então o outro dito juiz Barbosão "capinô?" Ele não disse o que bem quis, não prendeu quem ele resolveu prender, não usou e abusou na dita polícia federal mais a imprensa - marron - e a opinião pública debilóide? Cadê o cara?! Onde ele está escondido agora? Chamem ele aí, tragam-no à luz do dia e mandem ele dizer por que saiu de cena... Ou ele não é uma "autoridade" como as demais? Vamos, respondam seus debilóides! Ou será que alguém comeu a língua ou descobriu que "o buraco é bem mais embaixo"? Não sei o que os outros sabem, mas de uma coisa estou certo: qualquer um que vá acusar alguém, primeiro tem que apresentar as provas e não importa quem seja. Seus diplomas não são chave de cadeia... não prendem ninguém e não soltam nem você.

E a título de conclusão, quero que lembrem da história do Lobo e do Cordeiro, de fabulista francês La Fontaine, que narra a chegada do Lobo à beira de córrego onde um cordeiro, placidamente, bebia água fresquinha. Aí diz o Lobo, com ares de monstro, arreganhando os dentes: "Que desaforo é esse de sujar a água que eu venho beber? Espere só que vou castigar essa malcriação". 
Aí o cordeirinho, trêmulo de medo, respondeu cheio de inocência: "Como posso sujar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?"

Era verdade. O Lobo atrapalhou-se todo com a resposta, mas não perdeu o rebolado e inventou outra acusação:"Além disso, sei que você andou falando mal de mim no ano passado!"

O cordeirinho chegou a tremer de tão assustado com tamanha autoridade com que o Senhor Lobo o acusava e explicou:"Como poderia falar mal do senhor no ano passado se eu nasci este ano?!"

Novamente confundido com tanta pureza daquela voz inocente, o poderoso Lobo atacou:"Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo!"

-"Senhor Lobo, por caridade, como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?" Contrapôs o pobre cordeirinho, ante o furioso felino das matas polares, que sem mais lererê, viu que não ganhava do sincero animalzinho, e decidiu cortar o papo rumo ao ponto final: "Pois se não foi seu irmão, foi seu pai, seu avô e que importa... nhoc!"
Sangrou o cordeirinho bem no pescoço e foi dormir à sombra dos pinheiros de natal.

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terça-feira, 15 de novembro de 2016

Notícias da Bruzundangas * Antonio Cabral Filho - Rj

Notícias Da Bruzundangas


Dias Gomes, posso te alugar mais um pouquinho? É coisa pouca. Um minutinho só. Quero te dar notícia de uma republiqueta de bananas. Chama-se Bruzundangas. Hoje eu conheci um andarilho que passou por lá e trouxe poucas e boas. Ah! O andarilho disse que o nome dele é Lima Barreto. Segundo ele, é um lugar onde só tem bananas; só produz bananas, e a banana lá é tão importante que ser chamado de banana é uma honra. Tem até uma mulher símbolo, chamada Carmem Miranda, que divulga o ramo de hortifruti no mundo todo. Segundo ele Dias Gomes, o bananismo lá é tão forte que um banana de nada deu uma bananada na banana que geria os negócios da república tão bem dada que ela foi cair lá no sul não sei de onde e ele agora é o banana-todo-bananudo daqueles bananais, e pra concluir, Dias Gomes, o banana de lá é tão banana que acaba de se curvar ao rei gorila bananeiro do norte lá de algures.
Mas, mudando de assunto Dias Gomes, a tal república das bananas mandou os poetas todos pras terras de Pasárgada, sob as ordens de Manoel Bandeira, ameaçou fechar o ministério da cultura de bananas e voltou atrás devido ao chororô dos bananinhas por uma vitaminazinha de banana nos intervalos de suas pantomimas de engrupir bananeiros no circo do bananal. E o mais interessante, tu nem imagina Dias Gomes, o banana-todo-bananudo tem total apoio da imprensa de lá, que só estampa furos de reportagens sobre seus intentos bananíticos; como por exemplo, quando ele foi representar a república no forum mundial da banana e na hora da foto oficial, empurraram-no pra fora do foco devido às suas bananices muito banais; e na reunião anual da organização das bananas unidas, ao fazer seu discurso lá na tribuna de honra, mais da metade dos bananas presentes mostraram-lhe que banana também tem bunda; e tu nem sabe da maior, Dias Gomes, a imprensa dessa república bananeira não informou nadinha aos bananopolitanos. De modo que lá, segundo o Lima Barreto, todos os bananas se acham o máximo!

Finalizando Dias Gomes. Não vou ficar te alugando com firulas bananas. Nem vou te aporrinhar com noticiários vindos desse tal de Lima Barreto que eu encontrei por aí, todo metido a bananólogo. Mas tem coisa boa no ar. O Lima Barreto disse-me ao pé do ouvido que os bananopolitanos estão descobrindo coisas, coisas, sabe (?), como por exemplo: o bananudo-mor quer acabar com os direitos trabalhistas, aumentar o imposto de renda, cortar investimentos em pesquisa e treinamento de novos bananicultores por mais de vinte anos, vender as jazidas energéticas da república acabando com aquele império banana, fazer festas e mais festas para comer banana até se enfastiar sem se preocupar com os custos, elevar as dívidas públicas até aos jardins celestiais,  e, depois, se sobrar tempo, se refugiar numa casinha de praia no litoral de outras republiquetas mais bananas ainda. Ah, sobre isso, tem notícias de lá no secretíssimo jornal de oposição editado e assinado sob o pseudônimo de CobraVelva; é o Bruzundanga Way Of Life: http://bruzundangawayoflife.blogspot.com.br/ 
"Não é maravilhoso?!" Exclamou Lima Barreto todo embevecido. Bom, Dias Gomes, posso voltar a manhã? Fui...

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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Dias Gomes, Ai Que Saudade! * Antonio Cabral Filho - Rj

Dias Gomes, ai, que saudade! 

Depois que você partiu, minha vida ficou um buraco; é, e daqueles perdidões por ai, rua a fora, mato a fora, vida a fora. Fiquei órfão, sem pai nem mãe, parado numa curva da rio - Bahia, sem saber pra que lado fica o caminho certo. Passam carretas, puxando dois-três containers roncando igual minha mãe na soneca da tarde, passam gaiolões empinhados de bois rumando não sei pra onde. Passam tantos veículos de carga que eu me pergunto de onde vem tanta produção, aonde é esse lugar e se seria possível arrumar um ganho por lá. De repente aparece uma caminhonete chevrolezona enfumaçando tudo e  eu me animo a fazer sinal de quem quer carona. O moço pára com o braço e a cara de fora perguntando abusivamente "o quê qui'ocê qué'se minino?" - quero ir pra onde tiver um ganho, respondi, engatado. Vou pro rio, respondeu. Quer ir aí em cima, sobe! Ordenou e eu pulei na carroceria do "trem" e ele arrancou soltando fumaça por aquele mundão sem fim. 

De cima da caminhonete eu vim observando tudo, sem saber de nada nem aonde eu estava. Depois de viajar quase um dia, ele parou numa praça perto de um chaminé imenso e gritou "aqui é a Praça das Nações, Bonsucesso, Guanabara; é só seguir aquela avenidona do lado de lá, chamada Brasil, que vai dar lá na ponte que tão fazendo sobre o mar; lá ocê arruma ganho; inté"! Saltei da carroceria do moço sem sequer saber quem era, gritei obrigado correndo por uma rua que ele apontou e larguei na perna. Como não sou de olhar pra trás, nem me lembro do seu rosto. Estava fedendo a sangue de boi, pois a carroceria estava cheia de couro, que certamente já estaria num cortume por ali. Caminhei quase uma hora e dei de cara com os tapumes das obras da Ponte Rio - Niterói.

Pois é Dias Gomes, foi assim que eu caí no Rio,  mais perdido do que peixe fora d'água. Parei diante do porteirão onde tinha um cabra com um trezoitão pendurado na cartucheira e perguntei se tava fichando. Seu olhar frio e sua indiferença atravessaram-me mais forte do que bala, mas fitei-o de cima a baixo e repeti a pergunta num tom mais corajoso. Ele fitou-me de cima a baixo, rolou um cigarro de um lado para o outro da boca, empurrou o boné pra trás e falou "se ocê qué trabaio, entra e vai tomar banho lá naquela casa de teia, apois vai pro refeitoro qué na otra casa de teia e aguarda a comida, depois ocê ficha e maica a pegada"; saí que nem bala...

Bom Dias Gomes, pra encurtar a prosa, nas obras da ponte eu aprendi o Rio. Todo dia após o expediente, eu e uma turma íamos para a Praça Mauá, caçar um gado... e como todo caçador um dia vira caça, virei rolinha no laço de uma cearense danadinha de tesuda, êh bichinha pra meter! Casei com ela, tenho um casal de filhos, fiz um barraco em Imbariê pra nós morar, e como era muito longe dos empregos que eu arrumava, vendi. comprei outro do outro lado da Baia da Guanabara, em São Gonçalo e fomos pra lá. Deu tudo certo e comecei a ficar seu fã, vendo as suas novelas, os seus personagens humorísticos, e de todos eu prefiro o Odorico Paraguaçu, pelo que ele representa de crítica ao status quo brasileiro. Hoje, Dias Gomes, eu resolvi fazer um blog em sua homenagem, é o "Sucupira Way Of Life", e nele quero publicar apenas crônicas satíricas no estilo que você tão bem marcou a memória brasileira. Tenho certeza que vai dar certo e conto com a sua ajuda; ok?
Acesse Dias Gomes
http://www.memoriasindical.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=541
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